sábado, 26 de outubro de 2013

Tabatinga paraibana: HD e vinil


Chegada. Pé no chão; pedrinhas, folhas, areia, reentrâncias diversas penetram pela sola, como se uma miríade de agulhas, típicas da tradicional medicina chinesa, estivessem estimulando pontos sensoriais fundamentais adormecidos pelos cotidianos cadarços do asfalto. Explosão em HD, fogos de artifício, imagens e sensações indescritíveis.
Silêncio. Corpo imerso; praia deserta..., tonalidades de verde, rio e mar, água morna. Mergulhos e suspiros, infância aflora, lembranças dos 12 anos, disco de vinil toca reanimando feixes da memória persistente, como um estuário repleto de nutrientes reanimando os fluxos afetivos.  
Silêncio de novo. Rosto na areia; pele modificada, um nada e todos os tempos no presente. Único, perfeição, criação, morte.
Partida. Sentado na pedra; falésias resistentes, nuvens vespertinas, luz adormecendo nas ondas relutantes e nas encostas avermelhadas, contrates de imagens e sons, caminho...

sábado, 22 de junho de 2013

A PRIMAVERA BRASILEIRA: CUIDADOS PARA PRESERVAR O ENCANTAMENTO

Ao levar meus filhos às manifestações, desejo contribuir com o sentimento de indignação que se materializou em atos briosos de ocupação do espaço público. As bandeiras são múltiplas, plurais e descentradas, mas culminam, numa tentativa de síntese, no repúdio a escabrosa vitaliciedade do domínio de nossas elites políticas; dos partidos, dos mais variados espectros, entregues ao maquinismo do poder pelo poder e da perpétua forma de tornar o público o lugar da locupletação dos mega empresários, sobretudo, em época de copa e olimpíadas. Certamente, as manifestações numa democracia são legítimas e confrontam territórios dominados, promovendo o desvio da ordem democrática dócil planejada. Logo, todos nós manifestantes somos, por esse viés, desviantes ou mesmo desordeiros. Alguns, incisivamente, talvez mais sensibilizados por décadas de opressão, avançam sobre lugares representativos dessa ordem, para ocupá-los ou mesmo depredá-los; outros, de forma mais comedida, expressam sua indignação ressignificando os símbolos nacionais, ao portarem a bandeira e ao cantarem o hino nacional, associando-os, de fato, ao povo heroico. Dentro desse campo de ação da radicalidade democrática cabem muitos e é assim que precisa ser, contudo, é totalmente INCOMPATÍVEL com posturas TOTALITÁRIAS, INTOLERANTES, PERSECUTÓRIAS e DISCRIMINATÓRIAS. Creio que há uma inegociável exigência para a transformação do Brasil, e ela está no compromisso de não cedermos a nada que se assemelhe aos anos dos generais no poder.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

OUTONO NO ENTRE LUGAR

Acho que o belo está no entre lugar, no território que ainda não chegou. O entre lugar é bonito com seus açudes à beira do caminho. A vegetação nativa com seus cactos valentes e flores vermelhas são exuberantes e provocam encantos. A estrada sinaliza a aridez nos leitos dos rios que perderam momentaneamente sua carne, talvez a imagem mais transfigurada daquilo que concebemos como real. O colorido do céu é bem diferente, possivelmente, mais azul, poucas nuvens e sempre muito brancas. O sol com seus raios preenchem as tonalidades do cenário ao penetrarem na vegetação do agreste, configurando leveza e severidade. A estiagem austera duela com a destemida planta sertaneja sobre os elementos cotidianos que dizem sobre a vida e a morte. A contemplação do belo no entre lugar não nos leva para o lugar poético ideal, mas revolve-nos provocando sentimentos intrépidos, o sertão passa a nos habitar.